segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Tsipras, ser ou não ser Harry Potter


Alexis Tsipras durante o discurso de vitória
Alexis Tsipras durante o discurso de vitória /  FOTO EPA
Em plena campanha eleitoral grega, o líder do PASOK resolveu atacar Alexis Tsipras, chamando-lhe Harry Potter. O que o governante socialista (o PASOK estava no poder, coligado com a Nova Democracia) queria era acusar o líder do Syriza de ser um mágico, que estava a enganar a audiência grega ao prometer truques de magia económica. Mas a metáfora de Evangelos Venizelos, que este domingo viu o seu partido ser reduzido a pó, não podia ser pior escolhida. Harry Potter é uma personagem simpática que, com todo o tipo de truques, acaba sempre por se safar dos apertos e vencer. Se Tsipras pudesse escolher o seu cognome não faria melhor.
Com 40 anos, Alexis Tsipras teve uma carreira meteórica na política. A primeira vez que deu nas vistas foi em 1991, quando tinha 16 anos, no meio de revoltas estudantis contra uma reforma educativa do governo grego. Tsipras era militante comunista e destacava-se como orador nos plenários estudantis. Mas não foram esses dias agitados que fizeram deste filho de um engenheiro civil, dono de uma pequena empresa de construção, o primeiro líder de um governo de esquerda radical da UE.
Tsipras teve os padrinhos certos, soube aproveitar as oportunidades que lhe deram e mostrou ter nervos de aço e coragem nos momentos decisivos. O primeiro momento-chave foi a sua "transferência", em 1993, dos comunistas para um grupo de dissidentes, o Synaspismos, que queria modernizar a extrema-esquerda grega.  O segundo momento-chave foi a candidatura de Tsipras, com apenas 32 anos, à Câmara de Atenas. Foi muito eficaz na televisão, fez uma excelente campanha de rua e levou o partido de 4% nas sondagens para quase 11% nas urnas. A estrela eleitoral nasceu nesse ano.
Dois anos depois, em 2008, o jogo político sobe de nível, quando, Alekas Alavanos, o líder do Synaspismos e pai do Syriza - que entretanto começa a ser o chapéu-de-chuva de muitos movimentos de esquerda - decide deixar a liderança do partido. Tal como para a Câmara de Atenas, Alavanos volta a apontar como seu sucessor o jovem Tsipras.
Mas nem tudo correu bem entre o mentor e o sucessor. Um ano depois, já em plena crise financeira, Alavanos quis voltar à liderança para disputar as eleições legislativas. Foi talvez o momento mais difícil da biografia política de Tsipras. Hesitou, mas fez frente ao seu ex-líder e mentor e ganhou. "Foi a primeira vez que decidi comportar-me como um líder", disse Tsipras ao "Financial Times". "Foi a primeira vez desde que entrei na política em que pedi para fazer alguma coisa. Até esse momento, tinham sido sempre outros a pedir-me", acrescenta.
FOTO ANTÓNIO PEDRO FERREIRA Tsipras na última ação de campanha das eleições que acabou por vencer
O resto da história é mais conhecida. Cinco por cento nas eleições de 2009, 27% nas de 2012. E este domingo foi o que se sabe. É uma das trajetórias mais rápidas e consistentes da política europeia, assente no colapso da classe média, que deixou de ter representação partidária e viu o Estado Social evaporar-se. Tsipras, cujo único luxo visível é uma potente moto BMW, cavalgou isso de forma brilhante, com algumas adaptações imediatamente apontadas por opositores e por "compagnons de route" mais ortodoxos. A mais notada foi a recente presença na cerimónia religiosa da Epifania, da Igreja Ortodoxa grega - onde Tsipras nunca tinha ido na vida. Além disso, retirou discretamente um "poster" de Che Guevara do seu gabinete e passou a eleger Franklin D. Roosevelt como o seu herói político.
Com mais ou menos mudanças, o novo desafio de Tsipras é esmagador face a toda a sua biografia. E não é "apenas" por causa das dificílimas negociações com Bruxelas e com a troika. Os problemas de Tsipras vão começar literalmente em casa, com a linha dura do seu partido e com as prováveis negociações com outras formações políticas. Como fazer acordos com partidos mais ao centro sem perder o apoio dos seus deputados mais radicais é um desafio extremamente difícil e imprevisível. Conseguir formar governo e fazer um programa sem provocar dissidências ou protestos vai ser muito difícil. Só não é uma tarefa de Harry Potter, porque esse sai-se sempre bem. Só mesmo os políticos da velha Grécia é que não sabiam isso...


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